O jornal Washington Post, um dos periódicos mais importantes do mundo, publicou uma matéria sobre a crise brasileira e a contribuição fundamental de influentes líderes evangélicos, principalmente a do pastor Silas Malafaia, para que o governo interino de Michel Temer avance e tire o país do caos econômico, social e também moral em que se encontra. Leia a tradução da matéria abaixo.
Na crise brasileira, uma nova e poderosa força
Cristãos evangélicos passaram de margem política para o centro
Enquanto ele luta para construir o suporte para a sua Presidência, o novo líder no Brasil, Michel Temer, tem sido marcado pelo tipo de problema que os pesquisadores se referem como “um negativo forte”.”Temer, dizem rumores, que é um adorador do diabo”.
As origens dessa falsidade não são claras. Michel Temer, 75 anos, um político de longa data, é um cristão de ascendência libanesa Maronita. Mas tais rumores infligiram danos suficientes para que Temer se virasse para pastores evangélicos proeminentes pedindo ajuda. Eles o encorajaram a fazer um vídeo apelando para o apoio dos evangélicos.
“Ele fez um belo vídeo”, disse o pastor Marco Feliciano, um congressista e líder Pentecostal, que apareceu ao seu lado na gravação. “Ele pediu a igreja para orar por ele”, disse. As orações e pactos com pastores como Feliciano, forneceram o apoio tão necessário para Temer, dando uma influência sem precedentes ao crescente movimento evangélico, enquanto o Brasil passa por sua maior agitação política em décadas.
Temer escolheu um bispo evangélico que acredita no Criacionismo para ser seu ministro da Ciência, mas o nomeou como ministro do Comércio. O novo ministro do Trabalho também é um pastor evangélico.
Assim como a ‘Maioria Moral’, do reverendo Jerry Falwell emergiu como uma força nos Estados Unidos na década de 1980, líderes evangélicos brasileiros passaram da margem política para o centro. Seu movimento não é um esforço coordenado para tomar o poder, eles insistem. Mas uma reação das bases contra o secularismo, homossexualidade e alterações introduzidas durante 13 anos do regime do Partido dos Trabalhadores, de inspiração marxista.
Esta época parece ter tido seu fim neste mês de março, quando os legisladores votaram esmagadoramente para suspender a presidente Dilma Rousseff e colocá-la em julgamento por alegadamente violar leis do orçamento. Temer, antigo aliado de coalizão de Dilma virou rival político, e tornou-se presidente interino e servirá o resto do seu mandato até 2018, se ela for declarada culpada.
Temer entra no Governo com um mandato instável. Mesmo que a maioria dos brasileiros não acredite que ele é uma figura satânica, as pesquisas mostram que ele não é amplamente aceito, pois conta com menos de 10% dos cidadãos querendo-o como presidente, de acordo com pesquisas.
Michel Temer tem procurado a ajuda dos cristãos evangélicos, que foram alguns dos mais fortes patrocinadores do afastamento de Dilma. Dos 94 parlamentares de diferentes partidos que, de acordo com Feliciano, formam parte do bloco “evangélico” na Câmara dos Deputados do Brasil, 89 votaram para julgá-la. Dezenas dedicaram seus votos “a Deus” no processo nacionalmente transmitido pela TV.
Os evangélicos brasileiros não são monolíticos. Eles não têm um líder único. No entanto, em um país com mais de 30 partidos, o movimento se beneficiou de uma falta de disciplina, de uma cultura política, de negociata e fugaz alianças de conveniência, disse Paulo Baía, um cientista político e sociólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
“Eles têm mais influência política do que nunca, e estão passando por um momento em que estão afirmando o seu poder”, Baía disse.
O bloco evangélico tem crescido significativamente desde 2010, quando teve um número estimado de 73 lugares na Câmara, dos 513. Embora divergentes sobre questões econômicas, os legisladores do bloco são esmagadoramente contrários a uma decisão de 2013, agora sob recurso no Supremo Tribunal Federal do país, que reconheceu o casamento de pessoas do mesmo sexo. Eles também são contra a legalização do aborto.
Com uma população de 205 milhões, o Brasil continua a maior nação católica do mundo. Porém, 22% dos brasileiros se identificam como cristãos evangélicos, e eram apenas 5% em 1970. Muitos pastores evangélicos trabalham em áreas rurais remotas e nas favelas violentas, onde o governo está frequentemente ausente. Isso dá a pastores uma incomparável capacidade de mobilizar os eleitores em período eleitoral.
E comparado com líderes católicos do Brasil, os evangélicos são mais explícitos sobre seus endossos políticos. Baía explica: “Eles falam claramente a favor de seus candidatos e até campanha fazem para eles”.
Alguns também estudaram em faculdades cristãs nos Estados Unidos, incluindo a Liberty University, fundada por Falwell, que incentiva os alunos a promover valores religiosos através do engajamento cívico, disse o filho do reverendo Falwell, Jerry, o presidente da Universidade.
“Os estudantes brasileiros são compatíveis com os nossos alunos e com a vida na América”, ele disse, falando por telefone de Lynchburg (VA), onde está localizada a instituição. “Eles acham a América semelhante ao que experimentam em casa. Muitos líderes evangélicos brasileiros tinham, inicialmente, apoiado o Partido dos Trabalhadores por causa de seu foco em ajudar aos pobres; seus votos ajudaram a seu fundador, Luiz Inácio Lula da Silva, a ganhar a Presidência em 2006 e 2010. Mas esse pacto desmoronou durante o mandato de Dilma por causa do apoio do partido a um projeto de lei para proibir a homofobia, e uma lei para permitir a pílula do ‘dia seguinte’ para as vítimas de estupro, feito que líderes evangélicos acreditavam abriria a porta para o aborto”.
O principal televangelista do país pastor Silas Malafaia, um dos críticos mais severos de Dilma, disse que a fonte da ruptura foi um desentendimento sobre o papel do governo na formação dos valores dos brasileiros. “Qual é o jogo?”, questiona Malafaia durante a entrevista. “Controlar o estado”. “Nós vimos que o comunismo estava em seu DNA”, disse Malafaia em sua espaçosa casa em um condomínio fechado nos arredores do Rio de Janeiro.
Pastor Silas, que foi um dos pioneiros televangelistas do Brasil na década de 1980, tem mais de 3 milhões de seguidores no Facebook, no Twitter e no Instagram, onde ele rotineiramente espeta contrários, critica o feminismo e os direitos dos homossexuais. Ele foi franco em seu apoio a Temer como o líder de um governo de “Salvação Nacional”, e gravou um vídeo na tentativa de silenciar o rumor de que o atual presidente é um amante enrustido de Satanás.
O templo da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo fica em um lugar perigoso do Rio, mas estava repleto de câmeras de televisão e milhares de adoradores em uma noite recente. “A homossexualidade, a prostituição e o aborto, são pecados”, disse Malafaia a Congregação, que irrompeu em gritos de “amém” e “aleluia”.
Marcos Melo, 35 anos, membro da igreja, disse que “problemas espirituais” foram o cerne de muitos males do Brasil, do crime e a corrupção política que gerou a pior crise econômica desde a década de 1930. “Eu acredito que Deus está intervindo e arrancando esta imoralidade do povo”, disse Melo. O afastamento de Dilma, ele disse, “era necessário para o Brasil poder se curar”.
Algumas das figuras evangélicas que jogam pedras em Dilma estão enfrentando problemas legais, incluindo Eduardo Cunha, o antigo presidente da Câmara dos Deputados. Poucas semanas após presidir a seção que tirou a presidente, em abril, Cunha foi obrigado a afastar-se porque está sob investigação por corrupção e obstrução da justiça.
Temer nomeou André Moura, deputado e membro do Partido Social Cristão — um partido evangélico — como líder do governo na Câmara. Moura está entre aqueles sob investigação da Suprema Corte do país por suspeita de corrupção na estatal petrolífera Petrobras e também enfrenta acusações de envolvimento em crimes, incluindo conspiração e tentativa de homicídio nos últimos anos. Ele e Cunha negam as acusações.
Apesar da imagem do Brasil como uma terra de macarrão, biquínis e Carnaval, líderes evangélicos insistem que é um país moralmente conservador e dizem que a política brasileira está começando a refletir isso.
“Muitos evangélicos no Brasil vêem seu país em grande parte da mesma maneira que a direita evangélica dos Estados Unidos”, disse Andrew Chesnut, um especialista da América Latina e professor de estudos religiosos na Universidade de Virginia Commonwealth. “Eles acham que Partido dos Trabalhadores põem o Brasil no caminho para a ruína moral. Foi legalizado o casamento gay. O Brasil, tem uma das mais elevadas taxas per-capita da América Latina de aborto, mesmo sendo o procedimento ilegal. Há pornografia por todo o lado. Um monte de brasileiros fora das grandes cidades são bastante conservadores moralmente, e a agenda evangélica concorda com eles”, declara Chesnut.
Clique aqui e leia a matéria em inglês na íntegra.
Com informações de Washington Post
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