A cantor Jotta, que se tornou uma estrela do mundo gospel e foi indicada ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Cristã, em 2014, depois de participar do quadro Jovens Talentos do Programa Raul Gil, tem usado as redes sociais para compartilhar parte da sua transição de gênero.
Não é um processo fácil. Jotta contou que tudo se tornou ainda mais difícil por ela ser uma garota de uma pequena cidade, no norte do País, muito conhecida após a carreira na TV. “O processo é um pouco demorado, devido aos detalhes e protocolos. E na minha condição, que nasci em Guajará-Mirim, Rondônia, fica ainda mais difícil”, compartilhou.
No momento, ela tem feito reposição hormonal e está sendo acompanhada por médicos especialistas na área, mas para muitas mulheres trans, as necessidades mais básicas durante o processo de hormonioterapia, nem sempre estão disponíveis. Também é um momento onde muitas são abandonadas, questionadas e desestimuladas.
Jotta contou em seu Instagram como foi difícil encarar a solidão nesse trajeto e precisou de momentos sozinha, para se conhecer e fazer as pazes com a figura que via sempre que olhava o espelho. “A verdade é que não existe local de fala em uma sociedade onde todo mundo acha que tem o direito de opinar sobre você”, escreveu.
“Foi aí, que a solitude se tornou a melhor parte desse drama. Pude me olhar no espelho, provar as roupas que eu gosto, me maquiar de maneira desacelerada. Me apeguei a mim mesma e nunca mais soltei.”
SER MULHER
Apesar do caminho ser sinuoso, a cantora vem tentando aproveitar os desafios, depois de aprender que não é fácil ser feliz. Para descobrir mais sobre a sua própria identidade, Jotta conta que precisou se afastar do mundo gospel, por mais estável que sua carreira estivesse.
“São tantas camadas sobrepostas em nossa mente; a binariedade, o medo, a vaidade doentia, tudo isso parece tornar o verdadeiro eu impenetrável. Sem dúvidas, a viagem é longa até chegarmos na nossa melhor versão. O que importa é que eu me permiti existir e ser. Aceitei os desafios e venci o medo de ser feliz.”
Jotta: o nome artístico está em processo de ser registrado em cartório. Ela fez a solicitação da mudança e foi mais um dos processos que compartilhou. Escolher um nome que a representasse.
“Demorei muito tempo escolhendo meu nome, foram vários rascunhos…alguns deles sugeridos por melhores amigos. Confesso que já usei alguns crushes como cobaia para provar a fonética. E cheguei à conclusão de que deveria manter Jotta (apesar de nunca ter sido meu nome de registro, só artístico), mas além de essa ser uma maneira de estar atrelada sempre à minha história, também acredito que seria difícil readaptar meus sobrinhos pequenos a deixarem de me chamar de Tia Jotta — essa é a maneira carinhosa que eles me chamam já há alguns meses.”
A parte triste também está sendo exposta. Como a primeira vez que usou um vestido em público. Jotta passou muito tempo sendo a única a se enxergar usando roupas e maquiagens pensadas para mulheres.
Depois de muito planejar o momento que teria coragem de se vestir de uma maneira que gostasse na rua, na frente de todos, toda a coragem que precisou reunir desabou, quando ela se deparou com o machismo. “Me lembro da primeira vez que saí na rua usando um vestido e voltei pra casa chorando. Eu nunca havia experienciado o assédio masculino antes; desde assobios até os insultos”, relatou.
“Também me lembro de reduzir o meu ciclo de amizades após ser objetificada de maneira não intencional por alguns amigos que me perguntavam quando os meus seios iriam começar a crescer ou se eu queria ter uma vagina.”
Por algum tempo, ela tentou se preservar, se esconder, privou todas as redes sociais, mas agora Jotta está preparada para retomar a carreira. A cantora divulgou o nome da sua primeira canção, o lançamento ocorreu na sexta, 29/04, a música se chama Eden.
Fonte: Reprodução - Estadão