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É possível salvar os jovens do jogo 'Baleia Azul'? Especialistas respondem
Mundo Cristão
Publicado em 23/04/2017

Quem tiver com vontade de entrar no Baleia Azul, não faça isso. Só vai te causar coisas ruins. Em vez de parar sua tristeza, só vai aumentar". O depoimento dado pela jovem Mariana (nome fictício) mostra apenas a ponta do iceberg que tem se formado entre os jovens e adolescentes nas últimas semanas, devido ao jogo viral, que está deixando famílias inteiras preocupadas.

Originado na Rússia, o jogo consiste sempre em ocorrer da mesma forma: São 50 desafios diários, ditados por um curador (pessoa que comanda o jogo), revelados sempre por volta das 4h20 da madrugada. O contato entre curador e jogador sempre se dá via redes sociais (Facebook, Whatsapp...) e as "tarefas" começam aparentemente simples, mas vão ficando cada vez mais difíceis - como a automutilação - e, segundo a jovem confessou em seu depoimento, a última etapa chama os jogadores a tirarem suas próprias vidas.

Seis tentativas de suícidio por jovens já foram registradas em Curitiba e a polícia está investigando a relação destas ocorrências com o jogo.

A situação se tornou alarmante a tal ponto do deputado federal Marco Feliciano se mobilizar em favor das famílias dos jovens envolvidos. Ele presidirá uma audiência sobre o assunto no dia 2 de maio, em Brasília.

"O que me motiva é o desespero e despreparo dos pais. Que transferiram a responsabilidade da educação para o Estado, programas de TVs e smartphones. O silencioso grito dos nossos adolescentes são Reflexos da desconstrução das famílias que tem sido atacadas dioturnamente em sua base. Ou nos levantamos agora para uma conversa séria com a família ou não salvaremos nossas crianças", declarou o parlamentar.

Sabendo da preocupação que tem se agravado nos corações dos pais, trouxemos esta reportagem especial, buscando a opinião de profissionais e conselheiros experientes na abordagem de jovens, crianças e adolescentes. A psicóloga Marisa Lobo e os pastores Washington Sá e Edmilson Mendes falaram com exclusividade  sobre o assunto, reconhecendo a gravidade da situação e aconselhando pais e amigos dos jogadores em potencial.

Segundo Marisa Lobo, psicóloga e especialista em Direitos Humanos, o jogo de fato consiste na manipulação da mente dos mais jovens e as pessoas que comandam o jogo se aproveitam da vulnerabilidade dos jogadores.

"[O público alvo do jogo são] jovens, adolescentes, meninas com problemas familiares, pessoas tímidas, antissociais, depressivas, ou seja, com alguma vulnerabilidade psicológica e ou emocional", explicou.

"O 'curador' busca conhecer suas vítimas para dominá-las, aliená-las, fazendo com que elas fiquem totalmente presas psicologicamente neste jogo, que tem duas antagônicas: de uma lado há um dominador cruel, sem escrúpulos, e do outro um jovem submisso carente, talvez imaturo e atormentado. Uma combinação catastrófica, sem defesa para aquele que se submete", acrescentou.

A psicóloga também explicou que até mesmo a escolha do horário no qual os desafios são revelados aos jogadores tem uma razão "estratégica".

"É madrugada. Se o adolescente está dormindo, tem que acordar, com ansiedade e se sente obrgiado a cumprir uma tarefa, pode perder noites de sono, para não atrapalhar o andamento do jogo. Pessoas que têm problemas com sono de qualquer espécie, desenvolvem no mínimo irritabilidade e ansiedade, por conta disso, além de problemas comportamentais, familiares e escolares", explicou.

"Com o desafio do jogo, a única maneira de manter o nível de norepinefrina (substância produzida pelo corpo, responsável pelo controle do humor, ansiedade, sono e alimentação) é jogando mais tempo. No caso, partir para o novo desafio, com mais frequência, e desafios mais intensos, para conseguir prazer é um ciclo vicioso, pois a cada desafio, surge uma dor, uma angústia, um alívio, mais dor e mais desafios, até o alivio final, que é o suicídio", destacou.

Segundo Marisa, as pessoas afetadas por jogos deste tipo podem apresentar comportamentos específicos, que já podem ser observados pelos pais e amigos próximos.

Entre tais comportamentos que podem soar como um sinal, estão: Irritabilidade (podendo evoluir para comportamentos agressivos); Isolamento; Perda de apetite; Problemas com sono; Perda de interesses pelo mundo ao seu redor; Baixo rendimento escolar; Distanciamento dos amigos reais e da família; Tempo demasiado trancado em seu mundo virtual; Interesses por filmes de terror e violência; automutilação.

Marisa Lobo é psicóloga, especializada em Direitos Humanos e tem ministrado para famílias em igrejas de todo o Brasil. 

Vazio existencial e suas causas

Ainda tentando compreender o contexto de depressão e vazio existencial em que se prolifera este jogo viral.

O pastor Washington de Sá explicou a ameaça vai muito além do jogo 'Baleia Azul'. O perigo está realmente na mente vazia da geração atual que cresce sem respostas aos seus questionamentos e anseios, sem modelos a serem seguidos dentro de seus próprios lares.

"Esta depressão não vem por causa do jogo e não é apenas o jogo que agrava as depressões, mas sim uma mente vazia de instruções sobre a vida, que não tem informações, que não tem respostas. Os nossos jovens até têm onde buscar informações, mas não têm em casa um mediador para ajudá-los nessa busca", explicou.

O pastor Washington de Sá alertou para o perigo das mentes dos jovens se tornarem "mecanizadas" e como isso pode torná-los vulneráveis, sobretudo a este tipo de jogos.

"Crianças e adolescentes que se tornam mecanizados, com uma mente passiva e vivem um isolamento social, acabam tendo como reflexo deste isolamento em um ambiente virtual, um cérebro mais limitado e podemos citar outros problemas também como dislexia, disgrafia, discalculia. Eles desenvolvem uma mente mecanizada e passivamente conduzida.

Segundo o pastor tais mentes mecanizadas e vazias também são resultados da ausência de modelos dentro de casa e alertou sobretudo os pais cristãos que acabam falhando em ensinar aos seus próprios filhos, a vida plena que pode ser encontrada em Jesus.

"Quando os jovens não são ensinados, por exemplo, não indo à igreja, não lendo a Bíblia, não orando com seus pais, não vendo seus pais fazerem isso tudo eles não aprendem sobre Deus, não aprendem a adorar a Deus", explicou.

"A Bíblia nos fala em Provérbios 22:06, que quando ensinamos a criança no caminho que deve andar, quando for velha, não vai se esquecer deste caminho. A Bíblia não fala 'o caminho', mas 'no caminho'. Ou seja, é preciso estar junto, participar, ensinar fazendo e não apenas falando. A Família se desconectou, se desfuncionalizou. Não é mais funcional como Deus a idealizou, como Deus a fez. Os papéis (de pai, mãe e filhos) não são mais cumpridos", acrescentou.

Washington de Sá é pastor ligado à Igreja Batista da Lagoinha e Diretor Nacional da Rede Infância Protegida. (Foto: Igreja Batista da Lagoinha)

A saída

Apesar da pressão psicológica já confirmada que é promovida pelos "curadores" neste jogo, a psicóloga Marisa Lobo alertou que a melhor decisão é não aceitar o convite para entrar no jogo, mas ainda os jovens estejam em pleno processo de cumprimento dos desafios, ainda há possibilidades de conseguir se libertar do 'Baleia Azul' ou qualquer outro jogo que de alguma forma "aprisione" seus participantes.

"Os jovens que estiverem participando de qualquer jogo virtual, devem questionar: 'porque alguém me pediria para cometer algo violento, ou algo que possa colocar minha própria vida em risco?'. Entenda que por trás dos desafios há uma pessoa má, que se realiza fazendo o que é mal, causando dor física e emocional nas outras pessoas", destacou.

"Em qualquer jogo, chats, qualquer tipo de rede social, quando se sentirem, impulsionados muitas vezes em estar com aquele jogo ou aquela pessoa, questione, por que está sentindo esta vontade. Passar muito tempo nas redes sociais desenvolve um vício e, como qualquer outra droga, isso nos torna compulsivos, atrapalhando consideravelmente a nossa vida social, intelectual, e familiar de qualquer pessoa", acrescentou.

O pastor da Igreja Adventista da Promessa, escritor e conferencista de famílias, Edmilson Mendes alertou sobre o "solo fértil" que o jogo 'Baleia Azul' tem encontrado na sociedade pós-moderna.

"Somos uma geração de cabeças baixas, sempre olhando para a tela de um celular qualquer, queremos postar, conversar, mandar mensagens, vídeos, receber mensagens. Nem que seja apenas para uma centena de pessoas, fotos são produzidas para satisfazer a ilusão de ser uma celebridade. A caça por likes vale qualquer coisa", alertou

O pastor também lembrou que não apenas a família, mas também a atitude dos amigos e líderes dos jovens envolvidos neste tipo de jogo pode salvar a vida destes jogadores.

"É dever nosso, dos jovens, dos pais, dos líderes, dos pastores, dos amigos, enfim, quando digo nosso, me refiro a todo aquele que foi um dia liberto das trevas e foi colocado debaixo da maravilhosa luz de Jesus, é nosso dever estarmos atentos, orientar e prevenir qualquer aparência do mal", destacou.

"Se desconfiarmos de uma mínima possibilidade que alguém do nosso convívio possa estar envolvido com tais jogos é vital ajudarmos rapidamente, afinal, 50 dias passam muito rápido e nossa resposta pode representar a vida ou a morte para alguém", acrescentou.

com informações Guiame

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