Ainda que brasileiros e norte-americanos vivam contextos sociais e políticos bastante distintos, a “cultura evangélica” de ambos não é tão diferente assim. As centenas de livros de autores americanos que chegam traduzidos por aqui todos os anos e a presença frequente de pastores estrangeiros em grandes eventos, mostram que existe uma inegável influência no pensamento teológico.
Por isso, a pesquisa divulgada pelo Instituo Americano de Cultura & Fé (ACFI, na sigla original) esta semana merece atenção. A porcentagem de cristãos que se consideram “praticantes” continua caindo nos EUA e apenas uma minoria dos fiéis acredita que possuem uma “grande responsabilidade pessoal” em compartilhar o Evangelho.
“O cristianismo está passando por um momento de grande desafio. A Igreja muito provavelmente não crescerá no futuro, a menos que sejam feitas algumas mudanças fundamentais na sua prática”, avalia o pesquisador George Barna, em sua análise dos dados revelados no levantamento.
“Menos igrejas estão capacitando as pessoas para o evangelismo e ensinando sobre isso nos dias de hoje, por isso os resultados são óbvios e inegáveis. As implicações de se ignorar a divulgação clara do evangelho – especialmente entre as crianças, a audiência mais receptiva de qualquer mensagem – são enormes. Nem todas as estratégias de ‘crescimento da igreja’ do mundo poderão compensar a ausência de uma transmissão autêntica das boas novas do que Jesus Cristo fez pela humanidade”, destaca.
A pesquisa, que entrevistou 9.273 adultos, mostra que apenas 31% dos adultos que se identificam como cristãos também dizem ser “nascidos de novo”, seguindo a tendência de declínio em voga desde 2010.
A ACFI advertiu que esses dados demográficos não dão esperanças que a tendência possa ser revertida no futuro próximo, já que as pessoas das gerações mais novas demonstram menos preocupação com o assunto. Trinta e três por cento das pessoas na faixa etária com mais de 65 afirma que é preciso “nascer de novo” para ter a vida eterna ao lado de Jesus, enquanto 37% do grupo entre 50 a 64 pensa assim e somente 31% daqueles na faixa entre 31 e 49. O índice mais baixo está com aqueles entre 18 e 30 anos, e apenas 23% dos adultos.
“Crianças e adolescentes apresentam uma menor probabilidade de nascer de novo, que no passado, limitando a possibilidade de crescimento desse segmento”, afirma o documento.
A pesquisa da ACFI repete os dados de outras similares e indica que os jovens são mais propensos a aceitar Jesus Cristo como seu salvador antes de terminar o ensino médio, pois dois em cada três indivíduos que nasceram de novo fazem isso antes dos 18 anos de idade.
“Outros 8% o fazem durante o período onde tradicionalmente se frequenta a universidade (18 a 21 anos), 8% entre 22 a 29 anos, com outros 8% fazendo isso depois dos trinta. Apenas 9% dos adultos aceitam Cristo como seu salvador aos 40 anos ou mais”, observou a enquete.
Os pesquisadores acreditam que o declínio do número de cristãos nascidos de novo deve-se, principalmente, a visão dos membros de igreja em relação ao evangelismo e à salvação. Apenas 39% dos cristãos praticantes adultos afirmam possuir uma “grande responsabilidade pessoal” de compartilhar o Evangelho com pessoas que possuem diferentes pontos de vista.
“É perturbador o fato de adultos concordarem com a ideia que a salvação eterna pode ser obtida através de merecimento ou boas ações (25%), pois acreditam que a salvação não pode simplesmente ser recebida pela fé (20%)”, explicaram os pesquisadores.
Pouco mais da metade (55%) dos evangélicos e apenas 19% dos católicos disseram que a salvação eterna baseia-se unicamente na redenção por Cristo.
Uma mudança notável nas últimas duas décadas, afirmou a ACFI, é que 38% dos cristãos agora não se identificam nem como evangélicos nem como católicos, algo “praticamente inexistente no fim do século passado”.
“Essa mudança corresponde à diminuição generalizada da identificação das pessoas com as instituições e a rejeição dos rótulos tradicionais sobre questões de fé”, a pesquisa concluiu.
No tocante às razões de alguém decidir-se por seguir a Cristo, 29% dos cristãos nascidos de novo apontaram a influência de seus pais. Cultos e eventos da igreja influenciaram 20% das conversões, e familiares sendo responsáveis por 16% das decisões de alguém de tornar seguidor de Cristo. Pastores ou líderes de igreja foram citados por 8%. Além disso, 5% dizem que a maior influência veio de um amigo. Isso significa que pelo menos metade das conversões são resultado direto de um relacionamento próximo com outros crentes.
Barna chama atenção para o fato de os pais não conseguirem influenciar seus filhos a seguirem sua fé como ocorria nas gerações passadas. “Se você tirar a família e as igrejas como influências espirituais na vida de uma criança, são muito pequenas as chances dessa criança ter uma exposição positiva ao evangelho”, insiste.
Chuck Lawless, vice-presidente de Estudos de Pós-Graduação em Ministério do Seminário em Wake Forest, Carolina do Norte, acredita que os cristãos que não evangelizam não foram “ensinados genuinamente sobre o que significa crer em Cristo para a salvação”.
“No fundo, eles acreditam que há múltiplos caminhos para Deus – e ninguém intencionalmente, lhes mostrou claramente que isso contraria as Escrituras”, disse Lawless em outro momento.
Por Jarbas Aragão, com informações de Christian Post