São raras as vezes que uma produção de Hollywood apresenta a fé cristã de forma positiva. Mas no início do trailer de “Silence”, novo filme do premiado diretor Martin Scorsese, a primeira frase que se ouve é o versículo da “grande comissão”.
O drama histórico baseado na história real de missionários cristãos no Japão feudal já é apontado pela crítica como um dos favoritos para o Oscar de 2016. Embora só chegue ao Brasil em janeiro de 2017, ele terá um lançamento limitado nos EUA para poder entrar na corrida pela estatueta dourada do ano que vem.
Além disso, “Silence” terá uma estreia antecipada no Vaticano nesta terça (29), informa o jornal britânico “The Guardian”. Segundo a publicação, a sessão terá a presença de 400 padres jesuítas. O papa não irá comparecer, mas terá um encontro com o diretor separadamente.
A superprodução vem sendo planejada por Scorsese há mais de uma década e corria o risco de não ser lançada este ano, mas a falta de favoritos mudou os planos do estúdio. “O lobo de Wall Street” e “A Invenção de Hugo Cabret”, os dois últimos filmes do cineasta americano, tiveram um total de 16 indicações ao Oscar.
Scorsese dirigindo Andrew Garfield durante as filmagens de Silence. (Foto: Paramount)
“Silence”, ainda sem título oficial no Brasil, é inspirado num romance de Shusaku Endo, publicado em 1966. Conta a história de dois missionários jesuítas portugueses (Andrew Garfield e Adam Driver) que viajaram pelo Japão medieval no século XVII, pregando o evangelho. Eles partem em busca de seu antigo mentor (Liam Neeson), que desapareceu e teria abandonado a fé por causa da grande perseguição aos cristãos no país.
Quando se trata de religião, Martin Scorsese acumulou polêmicas quando dirigiu “A Última Tentação de Cristo”, de 1988. Mas desta vez parece que sua visão do cristianismo é bem positiva.
Scorsese é católico e chegou a frequentar o seminário quando jovem. Ele afirmou numa entrevista no ano passado: “Fé é um assunto que sempre me interessou, e o livro de Shusako Endo traz uma reflexão sobre o que significa levar uma vida seguindo a fé cristã.”
Cristianismo no Japão
As imagens do trailer mostram que filme retratará em detalhe como os jesuítas enfrentaram a onda de violência, uma vez que o cristianismo era proibido no Japão. Naquela época, os que seguiam a Jesus eram torturados e executados.
Estima-se que existiam naquele período 200 mil cristãos japoneses, centenas de igrejas e seminários e escolas. Contudo, em 1587 o general Hideyoshi determinou que os missionários não poderiam permanecer no país. Há registros que ele mandou crucificar publicamente 26 cristãos em 1597.
Dezenas de milhares de cristãos sofreram vários tipos de perseguição até 1873, quando a ‘proibição’ acabou. Oficialmente, o número de cristãos no Japão hoje em dia não passa de 2% da população.